sábado, 29 de novembro de 2014

Poética Musical: Fábio Zanon no Movimento Violão!!!

Poética Musical: Fábio Zanon no Movimento Violão!!!

Seria insuficiente qualquer superlativo para qualificar o concerto do genial violonista Fábio Zanon, ocorrido no Sesc Consolação, na noite de 28/11/14, pelo Movimento Violão, projeto este que comemora 11 anos de existência e tem como mentor o violonista, diretor e produtor Paulo Martelli.

As palavras de Zanon, ao final do concerto: “...O Movimento Violão deveria ser chamado Monumento Violão”. Ao expressar esse pensamento, o concertista mostrou a importância do projeto em levar pessoas compromissadas e do mais alto patamar do instrumento nacional e internacional. Zanon, em uma noite esplendorosa e inesquecível, presenteou a todos com um dos maiores recitais de violão de todos os tempos!!! Em estado de Graça, o qual todos ficamos, e, talvez, é bem verdade que a expressão seja pouco para mostrar um momento tão magistral!!!

Na primeira parte do concerto, as Seis Lições para teclado, do compositor britânico Henry Purcell, transcritas para violão, com uma extensa e riquíssima ornamentação e, com um grau de dificuldade altíssima para a execução, anunciou o “êxtase” que se seguiria mais à frente. Em seguida, nas palavras do violonista: “o Frankenstein” criado pelo compositor mexicano Manuel Ponce, pelo mais alto grau de erudição na escrita e, exigindo grande resistência do concertista, também por sua longa duração, as Variações sobre Folia de Espanha e Fuga elevou a platéia à uma espécie de transe, com uma interpretação extraordinária de Zanon , fazendo jus ao “monstro” criado pelo  compositor. 

Após o intervalo e a recuperação momentânea da platéia pelo impacto inicial, a segunda parte se inicia com o lindíssimo Prelúdio, Fuga e Allegro, BWV998, do compositor barroco Johann Sebastian Bach. Aqui, Zanon nos legou um Bach “expressivo”, com algumas nuanças da ornamentação estilística barroca e, em alguns momentos com um lírico improviso ornamental do violonista. A seguir, as Danças Espanholas 4 e 5, e a belíssima La Maja de Goya, do compositor espanhol Enrique Granados, nos remeteu à um cenário riquíssimo de sonoridades e cores, através de um lirismo romântico e calor interpretativos por parte do Concertista.





Em um final apoteótico, a técnica de Zanon sobrou de forma magistral nos Estudos 4 e 9 do compositor brasileiro Francisco Mignone e, voltando ao palco após um bis acalorado, passeia facilmente por toda virtuosidade exigida e a rítmica de Bate-Coxa, do violonista brasileiro e compositor Marco Pereira.  

Para quem esteve nesta grande noite de lirismo e poesia violonística, além de ser agraciado com a Música e o Violão de Fábio Zanon, também foi presenteado historicamente com o que podemos chamar de a enciclopédia viva do violão, onde, o violonista, com o seu preciso poder de retórica nos mostrou um pouco da trajetória dos compositores e suas respectivas composições!!! 
Para quem ainda não teve o privilégio de assistir Zanon, vale a pena cada minuto e cada segundo de apreciação do Concerto do Violonista!!!

Foi uma noite realmente memorável!!!

Fábio Zanon recentemente foi eleito com o título de Fellow da Royal Academy of Music, premiação esta conferida a ex-alunos que tenham desenvolvido uma carreira significativa como músicos, musicólogos ou professores.

Mais sobre Fábio Zanon, leia: http://aadv.alotspace.com/bio.html


Escrito por Marcello Tibiriçá.


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Manoel de Barros: A Poesia!!!

Manoel de Barros: A Poesia!!!

Hoje, um dos nossos maiores poetas fez a sua passagem. Na sua luminosidade e incompletude, além de tantos outros belos poemas, nos deixou este, que expressa o poeta por ele mesmo!!! 

Penso que talvez eu não tenha lido um pensamento tão incrivelmente pedagógico, expressado como ao que se segue neste poema!!! 




"A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, 

que puxa válvulas, que olha o relógio, 
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis, 
que vê a uva etc. etc.

Perdoai

Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas."

(Manoel de Barros).



Postado por Marcello Tibiriçá.