domingo, 21 de junho de 2015

O Nacionalismo e o Folclore na Música do Século XX !!!

O Nacionalismo e o Folclore na Música do Século XX !!!

Olá amigos!

No meu texto O Folclore no Ensino Musical, postado aqui no blog em Outubro de 2014, e também com publicação na Revista Leve & Leia em Dezembro do mesmo ano, eu procurei mostrar que o mesmo, através das suas multiplicidades regionais, é um elemento importante do nosso passado, do presente e imprescindível na formação cultural do ser humano, manifestado através dos costumes mais variados e de regiões das mais diversas do nosso país e do mundo.

No texto de hoje abordarei o folclore no contexto do nacionalismo musical enquanto “musica moderna” do século XX, destacando alguns dos compositores desta corrente, que a partir de seus países de origem, pesquisaram a etnia musical de determinados povos, na busca de uma identidade cultural nacional de sua época.

Então, vamos lá! Uma ótima leitura!!!


O Nacionalismo e o Folclore na Música do Século XX !!!

“Meu verdadeiro objetivo é a fraternidade das nações...”. Seria um equívoco acreditar que este pensamento de Bartók se restringisse unicamente à sua música. Entretanto, ele muito provavelmente teria alcançado um desejo ideologicamente nacionalista e “unificador”, de bases “políticas”, reforçado pela configuração étnica de diversos povos.

O início do século XX estava em meio a uma avassaladora crise econômica mundial. Em meio ao caos europeu, marcado pelas guerras e pelo estabelecimento de ditaduras fascistas, surgem juntamente às novas “experimentações radicais” no campo da música, correntes como o Impressionismo, o Expressionismo e o Dodecafonismo, na busca por um afastamento das tradições musicais até aquele momento, na afirmação de um novo pensamento e de uma nova música!

De outro lado, na tentativa de “unificar” aquilo que se encontrava “disperso” pela nova música, ideais de valorização tipicamente nacionais manifestavam-se como um movimento contrário e de autoafirmação das tradições musicais e do nacionalismo, crescidos naquele momento.

Era um mundo desejando manifestar seus pensamentos, suas ideologias e crenças as quais mais se ajustassem ao momento psicológico representado por cada corrente. Em meio a tanta intolerância política, dois lados musicais buscavam afirmar sua história!

O Nacionalismo, enquanto “música moderna”, se caracterizou por um movimento de compositores que buscavam uma identidade cultural nacional, se valendo, neste processo, de um vasto material oriundo das manifestações populares, com bases em pesquisas sobre a etnia musical dos povos. 

O movimento se tornou contrário às novas práticas musicais atonais dos compositores vienenses, no momento o qual passou a ter grandes afinidades com o neoclassicismo musical e suas práticas composicionais tradicionais. A escolha pela tonalidade e o uso frequente do folclore popular eram os ingredientes principais e importantes de configuração da corrente. Quando a mesma buscou enfatizar um sentimento de valorização nacional, um novo espaço ainda não ocupado pela “nova música” passou a ser preenchido pela música nacionalista, abrindo, desta forma, possibilidades para novas pesquisas no campo do folclore e das etnias musicais populares. 

Assim, a “hegemonia austríaca” da Europa Ocidental assistia há alguns anos, antes da Primeira Guerra, o aparecimento de movimentos nacionalistas que, em sua construção, passaram a utilizar o que já existia na tradição e nas raízes populares. 

Béla Bartók
O compositor húngaro Béla Bartók foi, sem dúvida, um dos mais importantes, senão, o maior pesquisador do folclore musical e de etnias musicais populares. 

Aberto a todo tipo de influência, suas principais pesquisas pela Hungria e países vizinhos se estenderam até a Turquia ao norte da África. Bartók procurou mostrar, da maneira mais minuciosa possível, os elementos orais transmitidos através do canto popular e do folclore, e todo o tipo de variação e entonações vocais, buscando não alterar a veracidade dos elementos musicais de raízes de uma determinada tribo. Sem dúvida, esta foi a sua maior contribuição para a música folclórica, seja ela de origem eslovaca, romena, árabe ou de outra nação. 

Com estas pesquisas de cunho popular, Bartók chegou a conclusão da importância do sistema tonal maior-menor, utilizando os modos gregos e todo tipo de escala exótica, dando maior ênfase na utilização da escala Pentatônica e de mudanças de andamento sobre ritmos variados. 


Suas principais obras, e que demonstram esta utilização de elementos do folclore popular são: o Primeiro e o Segundo Concerto para Piano; o Terceiro, o Quarto e o Quinto Quarteto de Cordas; a Música para Cordas, Percussão e Celesta e a Sonata para dois Pianos e Percussão. Em sua ópera de um só ato, O Castelo de Barba-Azul, Bartók, utilizando uma orquestração brilhante, mostra muito da influência que teve da música de Strauss. A influência de outro compositor, Stravinsky, com todo o dinamismo da sua Sagração da Primavera, também foi evidenciada no balé O Mandarim Maravilhoso. 

Zoltán Kodály
Outro compositor da Hungria, Zoltán Kodály, assim como Bartók, fez também uso de elementos populares, como podemos presenciar na sua obra Salmos Húngaros Op.13, de ornamentação folclórica. Porém, sua maior contribuição ficou na área da educação, com uma metodologia de ensino para crianças, ainda muito utilizada em nossos dias! 

Na Rússia, Stravinsky utilizaria melodias folclóricas em Petruchka e A Sagração da Primavera. Procurou evocar o espírito da velha Rússia, seu humor e seus rituais. Musicou pequenos poemas populares através de uma série de canções e peças para coros de vozes. 

Em outro momento, o nacionalismo de Shostakovich, através de uma herança nacional ligada à principal corrente da tradição europeia, tomaria uma conotação mais política, como podemos presenciar na Sinfonia O ano de 1905. 

Países do Norte e do Sul da América tomariam como modelo a forma do nacionalismo europeu. Nos Estados Unidos, Charles Ives e Aaron Copland fizeram uso deste modelo. Na Argentina, podemos citar Alberto Ginastera. No Brasil, o Maestro e Compositor Heitor Villa-Lobos.

Heitor Villa-Lobos
Villa-Lobos foi o compositor que mais representou o nacionalismo em nosso país, procurando mostrar os ritmos e as sonoridades mais naturais e típicas da nossa terra!

Para o escritor Vasco Mariz, em seu livro Villa-Lobos, o homem e a obra: “O nacionalismo musical no Brasil só se afirmou, em linhas vigorosas, com Heitor Villa-Lobos...”.  

Porém, para Mário de Andrade, escritor e pesquisador do folclore popular, o nacionalismo no Brasil produziria uma série de mal entendidos, ressaltando entre estes o exotismo: “O que deveras gostam no brasileirismo não é a expressão natural e necessária duma nacionalidade não, em vez, é o exotismo, o jamais escutado em música artística, sensações fortes, vatapá, jacaré, vitória-régia.”   

Em uma primeira manifestação, o nacionalismo de Villa se mostra ainda como uma tentativa inicial na Lenda do Caboclo e nas Canções Típicas Brasileiras. De forma muito presente e já em fase posterior, a partir de 1922, o folclore em sua expressão nacionalista será evidenciado em seu Noneto, nos seus magistrais Choros, nas Serestas e nas Cirandas. 



Em uma de suas citações, Villa-Lobos expressou que “A música folclórica é a expansão, o desenvolvimento livre do próprio povo expresso pelo som”. Um pensamento também expresso de forma vigorosa em boa parte de suas composições, em um momento em que sua predileção pelo nacionalismo em música se mostrou de forma natural, configurando-se, assim, uma tendência de compositores que buscaram pesquisar a etnia musical através das mais variadas manifestações populares. 

A importância de compositores como Villa-Lobos, Béla Bartók, Zoltán Kodály, dentre outros, na tarefa da pesquisa e do estudo sobre a etnia musical dos povos, nos legando, desta forma, um material composicional riquíssimo, torna-se imprescindível, no momento em que o folclore, com as suas multiplicidades regionais, é um elemento importante do nosso passado, do presente e de formação cultural do ser humano para o futuro, sendo o mesmo um elemento catalisador dentro do processo de aprendizado da criança e do adulto, com a possibilidade de se transformar e se multiplicar enquanto educação musical.


Escrito por Marcello Tibiriçá. 

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