segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O Violão herdeiro da estética musical clássica do século XVIII.



Olá amigos!!! Neste texto gostaria de abordar especificamente sobre o Violão, num período o qual ele foi muito prolífero, seja em seu discurso instrumental-musical, em suas linhagens de ensino ou com os compositores que contribuíram para a evolução do mesmo. O aluno, ao começar o estudo de Violão Clássico, passará a desenvolver sua técnica a partir de um repertório construído nesta época, possibilitando-o posteriormente caminhar por outras linguagens e momentos em sua evolução musical. Por isso, acredito ser útil situarmo-nos um pouco sobre o assunto. Isso ajudará o aluno iniciante entender qual o caminho a seguir para expressar-se com o violão, numa época onde o discurso estético musical do instrumento, teve como desenvolvimento um período historicamente rico, com seus personagens, suas obras e formas musicais. Então, vamos lá!!!

O Violão herdeiro da estética musical clássica do século XVIII.

(Classicismo, Violão, Iluminismo e Música).

Em literatura, de acordo com o nosso Aurélio, a palavra clássico marca a cultura dos antigos povos gregos e romanos e,  “que segue, em matéria de artes, letras, cultura, o padrão deles”. Também, pode-se dizer que um escritor exemplar por sua grande obra, tenha tornado-se um marco na literatura, ou, um clássico, tanto ele quanto ela!

Da mesma forma na música, um compositor, seja ele erudito ou popular, que se perpetua através do tempo pela magnitude da sua obra, passa a se designar um clássico, podendo ele pertencer a um determinado período da História da Música.

A Música Clássica do século XVIII, que se desenvolveu aproximadamente entre 1750 e 1810 (para alguns historiadores até 1830), teve como seus maiores representantes os compositores da chamada “Primeira Escola de Viena”: Haydn, Mozart e Beethoven, este último na sua primeira fase. Eles produziram um grande repertório, seja em quantidade quanto na qualidade, deixando Músicas para Grande Orquestra, pequenas formações instrumentais (Música de Câmara), ou instrumento solista. É o momento o qual se estabelecem a Ópera, a Sonata, a Sinfonia e o Concerto como as principais formas musicais do período.

O período clássico do século XVIII produziu tanto no âmbito estético musical, quanto nas artes em geral, um importante acervo cultural, tendo como ponto de partida o Iluminismo de filósofos como Locke, Hume, Montesquieu, Voltaire e Rosseau. Neste período ocorreu uma mudança de pensamento voltado para o real e o racional, em lugar do que até então era tido como sobrenatural. É a época da Psicologia, da Sociologia, da Educação e da Ciência empírica. Com a ascensão da burguesia, a população passou a participar de maneira mais ativa e presente nas Artes e na vida econômica da Europa. Num processo de humanização, o homem através das “Luzes” (Iluminismo), segue em busca de um “sentimento mais natural”, e um “conhecimento mais verdadeiro”. Desta forma, a educação, a filosofia, as artes, a ciência e o homem passaram a ser fontes de investigação empírica.

Ao pensarmos em Música Clássica do Século XVIII, é comum associarmos a esta adjetivos como estilo galante ou palaciano, música amável, de estilo cortês, ou ainda, música para divertimento ou entretenimento, música mais leve, mais clara e menos complicada do que a rebuscada Música Barroca. Ainda, se fizermos uma comparação com a Arquitetura Clássica dos Gregos e dos Romanos, podemos dizer que existe graça e beleza nas linhas melódicas, e proporção e equilíbrio nas suas formas e em sua linguagem.

Fernando Sor
Para o Violão, o século XVIII é visto como “a época de ouro”, devido a grande produção musical para o instrumento, seja através das diferentes escolas e estilos de professores, ou ainda, na formação de um vasto repertório, propiciando assim o surgimento de concertistas. Nessa época, o violão ainda não possuía as dimensões que conhecemos hoje, que foi desenvolvido a partir das técnicas de construção do Luthier e autor Antonio de Torres (século XIX). Comparado à época de Torres aos nossos dias, o violão no século XVIII era muito modesto em sua construção, pequeno em suas dimensões, com um som mais acanhado e muito “metálico”. O mesmo era tocado em palácios, nas cortes, em catedrais e em lugares onde o artista pudesse expressar sua sensibilidade.

Dentre as escolas violonísticas que contribuíram para a didática do instrumento naquele momento, deixando assim uma pedagogia importante para os séculos seguintes, se destacam os Espanhóis e os Italianos. Os Compositores Espanhóis mais importantes desse período são Fernando Sor e Dionisio Aguado. Entre os Italianos se destacam Ferdinando Carulli, Matteu Carcassi e Mauro Giuliani.

A linguagem musical do violão nesse momento foi diretamente influenciada pelo discurso musical dos grandes compositores dessa época, porém, com um discurso orquestral adequado ao instrumento. Fernando Sor buscou inspiração na Primeira Escola de Viena, muitas vezes aflorando um estilo Mozartiano na composição de suas obras. Mauro Giuliani, ao regressar para a Itália após um período longo de viagem, montou um trio camerístico com Rossini e Paganinni, absorvendo assim muito do estilo musical destes dois grandes compositores Italianos.

Para o estudante de violão, foi deixado um material de estudo considerável como métodos, estudos, peças musicais, sonatas para violão, temas com variações, concertos, formações com outros instrumentos em duos, trios, quartetos e um grande número de obras didáticas. 

Boa parte deste repertório se torna indispensável, seja para o violonista amador, seja ele um futuro profissional, possibilitando assim seu desenvolvimento musical e técnico no instrumento. Contudo, vale ressaltar que uma boa alfabetização musical para quem escolhe o violão como instrumento, necessariamente contará com esse material, somando-se assim ao seu conhecimento esta parte da História da Música Ocidental.

Então é isso! Espero ter contribuído um pouco para os alunos iniciantes e os apreciadores do violão, mostrando esse momento tão rico do desenvolvimento histórico e musical desse instrumento. Um abraço e até a próxima!

Escrito por Marcello Tibiriçá.

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